Caminhar não precisa ter só o obcjetivo de nos levar de um ponto ao outro. Esta actividade deve ser muito mais que isso. Deve nos proporcionar vivências e experiências memoráveis. Experiências estas que resultam da interação do pedestre com o meio urbano e com as pessoas. Caminhabilidade significa cidades que convidam os seus cidadãos a caminhar mais.
Neste artigo, iremos falar sobre como as cidades, os bairros e as ruas podem convidar os seus residentes a se moverem para os seus destinos de forma passiva – que é movendo-se a pé ou de bicicleta.
Caminhabilidade é a qualidade de um espaço urbano que permite e estimula a mobilidade a pé. Este conceito envolve diversos fatores que garantem a segurança, o conforto e a atratividade dos pedestres no meio urbano.
A caminhabilidade é essencial no planeamento urbano, pois influencia o comportamento social e a saúde pública. Cidades com alta caminhabilidade oferecem ambientes públicos mais agradáveis, que encorajam as pessoas a se deslocarem a pé.
Importância da caminhabilidade
Caminhabilidade promove a Inclusão social, coesão social, Liberdade e Saúde Urbana
Caminhar é a forma mais natural de locomoção humana e é promotora de uma série de benefícios. Portanto a promoção de cidades caminháveis está estritamente ligada a inclusão social, democracia e liberdades. Numa comunidade onde se caminha, as pessoas se conhecem mais e conhecem melhor o meio que as rodeia.
A adoção do caminhar como meio principal de transporte melhora a saúde mental, em resultado das várias interações que vamos trocando com as pessoas e com o meio que nos rodeia.
Sobre estes contactos Jan Gehl no seu livro Cidades para pessoas, afirma: muitos contatos passivos de ver e ouvir: observar as pessoas e o que está acontecendo. Essa modesta e despretensiosa forma de contato é a atividade soda urbana mais difundida em qualquer lugar.
É muito fácil para quem está se movendo a pé reduzir o passo para apreciar uma vitrine ou parar para conversar. Isso demonstra uma maior interação do usuário desse modo de transporte com o meio urbano. Como defende Francesco Careri: caminhar é uma forma de construir a paisagem. Assim, ao estarmos presentes nos lugares públicos através da caminhada, atribuímos significado aos lugares das cidades e tornamos a cidade um lugar de encontro, de troca de ideias e de trocas comerciais.
Caminhar é também uma forma de expressar e viver a liberdade que deve caracterizar o ser humano. O que resulta em um bem-estar psicológico.
O pedestre está completamente exposto aos estímulos da cidade. E é importante que esses estímulos existam para que a experiência de caminhar pela cidade seja mais rica.
A Caminhabilidade é Pilar da Vida Urbana e Sustentabilidade
A vida quotidiana acontece à escala do pedestre, por isso não devemos perder de vista este modo de transporte. É o pedestre que compra o pão. o pedestre é que vai ao café. É o pedestre que conversa com o vizinho. O pedestre é que te dá informações quando estás perdido na cidade. É o pedestre que entra na loja. É o pedestre que para na banca. A presença de pedestres na rua pode determinar a vitalidade da cidade, do bairro ou da rua. Sem lugares caminháveis dentro da cidade, a vida quotidiana estaria comprometida.
Este modo de deslocamento é sustentável por gastar muito poucos recursos e promover um ambiente mais saudável. Contribui para a redução da poluição e para a redução do consumo de combustíveis fósseis. Uma cidade caminhável, inclusive, tem menos problemas de mobilidade.
Em Veneza, é fácil caminhar dez, quinze ou mesmo vinte mil passos em um dia comum. Não se pensa nisso como uma grande distância em função da riqueza das impressões ganhas no trajeto e no belo espaço urbano. Simplesmente se caminha, diz Jan Gehl
O pedestre está completamente exposto aos estímulos da cidade. E é importante que esses estímulos existam para que a experiência de caminhar pela cidade seja mais rica. Quanto mais pedestres uma área urbana tem, maior é a segurança desta área; portanto, promovendo a caminhabilidade, promovemos também a segurança.
Descobrindo como são feitas as cidades caminháveis
Para uma cidade ser caminhável, a paisagem urbana é crucial. Devem existir na paisagem pontos de interesse ao longo do percurso para serem observados e vividos pelos pedestres. O pedestre deve receber estímulos ao longo do seu percurso. Estes estímulos só são conseguidos quando a cidade é desenhada à escala correta: a humana, e não a do automóvel. Uma cidade desenhada à escala humana atende às necessidades do pedestre e coloca em segundo plano o automóvel. Numa cidade espaços destinados ao pedestre devem ser a prioridade.
Existem alguns elementos a serem considerados na hora de pensar as cidades caminháveis: As fachadas ao nível do piso térreo devem ser atractivas; os edifícios adjacentes a rua não deve se fechar para o passeio, ou seja, deve-se evitar que haja fachadas cegas voltadas para o espaço público; a vedação deve ser leve e visualmente permeável; recuos dos edifícios adjacentes ao espaço público aumentam a qualidade e a segurança destes espaços.
A qualidade dos passeios afeta muito a experiência de caminhar. Isso inclui a sua conservação e a ausência de obstáculos. As cidades caminháveis respondem de forma positiva à seguinte pergunta: Uma pessoa idosa teria facilidade para caminhar neste passeio?
Nos últimos dois séculos, o planeamento urbano começou a mudar, reconhecendo a importância de priorizar o deslocamento a pé. As cidades estão agora a ser desenhadas tendo em conta a escala humana, o que proporciona uma experiência mais rica e interativa para os seus habitantes. A promoção da caminhabilidade é um passo crucial para a construção de cidades mais inclusivas e dinâmicas.
Fatores que Influenciam a Caminhabilidade
Uma cidade que convida as pessoas a caminhar, por definição, deve ter uma estrutura razoavelmente coesa que permita curtas distâncias a pé, espaços públicos atrativos e uma variedade de funções urbanas. Esses elementos aumentam a atividade e o ‘ sentimento de segurança dentro e em volta dos espaços urbanos. Há mais olhos nas ruas e um incentivo maior para acompanhar os acontecimentos da cidade, a partir das habitações e edifícios do entorno, diz Jan Gehl.
A combinação de diferentes fatores determina a caminhabilidade de uma área. Os pontos geradores de fluxo, a conectividade da área urbana, as condições do caminho e a segurança são componentes essenciais da caminhabilidade. Detalhar estes elementos ajuda a entender melhor como promover um ambiente mais acessível e atrativo para todos.
Pontos Geradores de Tráfego
Os pontos geradores de tráfego são essenciais para a presença de pedestres. Alguns locais atraem muitas pessoas: escolas, supermercados, praças, postos de trabalho, terminais de transporte público, entre outros locais. Quando há diversidade de destinos em uma área de proximidade, a probabilidade de as pessoas optarem por caminhar aumenta.
Por exemplo, áreas com uma variedade de serviços, como cafés, lojas e espaços públicos, incentivam a movimentação. Planear ruas com destinos, como habitação e comércio, é vital para melhorar a acessibilidade. A intensidade e a função dos espaços refletem diretamente na quantidade de pedestres.
Uso misto
O uso misto em áreas urbanas promove uma convivência harmónica entre residências, comércio e serviços. Esta mistura contribui para que as pessoas realizem mais atividades a pé, facilitando a interação social e o dinamismo dos espaços urbanos.
Quando os espaços são desenhados para incluir diferentes tipos de uso, as distâncias são reduzidas. Isso ajuda a incentivar as pessoas a caminharem. Um bairro com zonas de uso misto tende a ser mais vibrante e interessante.
Condições do caminho
A caminhabilidade é bastante afectada pela morfologia e condições físicas do lugar. Isso se desdobra em qualidade dos passeios, dimensão do passeio, altura do muro que faz limite com o passeio, a existência ou não de arborização e a sua distribuição, e a oferta de espaço para sentar e permanecer no espaço público, assim como a dimensão da quadra.
A qualidade dos passeios tem um impacto significativo na caminhabilidade. A largura do passeio, o seu estado de conservação e a existência ou não de obstáculos afetam a experiência do pedestre. Passeios bem cuidados, planos e largos promovem um caminhar mais agradável e seguro, para além disso, a declividade e a sinalização são fatores a considerar. Passeios acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida, incluindo idosos e crianças, são essenciais.
Caminhabilidade e Acessibilidade
A conectividade urbana é definida como a facilidade e eficiência com que um cidadão pode se deslocar a pé em uma cidade.
Para uma melhor acessibilidade, a distância até as paragens deve ser cuidadosamente controlada, assim como também deve ser controlada a dimensão da quadra. É importante que se cuide para que não hajam caminhos sem saída, uma vez que esses trechos podem criar confusões e dificuldades para quem está se deslocando.
Pautando pela conectividade, garante-se que a circulação pedonal seja fluida e contínua, promovendo um ambiente mais agradável e seguro para todos os usuários, facilitando o acesso e a mobilidade em áreas urbanas.
Conforto do pedestre e a caminhabilidade
O conforto do pedestre no caminho é essencial para que o pedestre opte por caminhar ou por andar de bicicleta, em vez de escolher um veículo motorizado. O conforto do pedestre vai depender essencialmente de aspectos como: ventilação, arborização e nível de ruído.
A ventilação dos arruamentos é crucial para o conforto do pedestre. Ela é influenciada pela altura e pela orientação dos edifícios nas margens das ruas. Através da disposição estratégica dos edifícios, pode-se criar corredores de ventilação.
A influência essencial da arborização urbana para a caminhabilidade de áreas urbanas é inegável e extremamente valiosa. As arvores não apenas fornecem a sombra, que é necessária na proteção do pedestre, mas também assegura um conforto térmico significativo em dias quentes e ensolarados. Além disso, a arborização contribui significativamente para a redução da poluição do ar. As arvores também criam um ambiente mais amigável e acolhedor, melhorando assim a paisagem, que tanto influencia o nosso prazer na caminhada.
Árvores e ventilação são vitais pois melhoram o microclima local, criando um espaço onde as pessoas se sintam protegidas das intempéries. Isso torna os ambientes urbanos muito mais agradáveis e saudáveis, incentivando de maneira eficaz a mobilidade a pé ou de bicicleta.
É igualmente importante que o espaço público tenha mobiliário urbano para incentivar a permanência dos pedestres no espaço público.
Segurança dos Pedestres e a caminhabilidade
Crianças desacompanhadas podem circular pelo seu bairro? Esta pergunta nos elucida como questões de segurança podem inibir certos grupos, como mulheres e crianças a caminhar pelas ruas da sua própria cidade. Projetar zonas que sejam acolhedoras e seguras ajuda a promover uma cultura de mobilidade a pé. A segurança dos pedestres é um fator determinante para a caminhabilidade de uma área. Estruturas que garantem a proteção contra o tráfego motorizado e a criminalidade são essenciais. A presença de iluminação adequada e visibilidade nas ruas influencia a sensação de segurança. Assim como as janelas e portas dos edifícios adjacentes estarem voltadas para o espaço público aumentam a segurança, pois teremos os olhos das pessoas sobre o espaço público.
Considerações finais
Uma cidade bem projetada deve ter espaços acessíveis. Os passeios (calçadas no português brasileiro) devem ser amplos, livres de obstáculos e bem conservados. Por outro lado, em cidades que não respeitam a escala humana, as caminhadas são cheias de interrupções. A paisagem urbana é desinteressante. Fachadas cegas e muros altos, sem nenhuma permeabilidade visual, fazem o limite da rua. Os destinos ficam distantes, por conta do zoneamento das atividades; os passeios são estreitos; atravessar a rua é muito difícil.
A relevância deste conceito é evidente na promoção de estilos de vida activos, e na redução da dependência de veículos motorizados, contribuindo para melhorias na saúde pública e para a sustentabilidade da cidade.