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Lisbon, Portugal
Você sabia que a configuração física de um espaço pode estimular ou desestimular a prática de um crime? Isso sucede porque a forma como o espaço está organizado tem influência directa em nossos sentimentos. Neste artigo, mostraremos as qualidades que o espaço público pode ter para ajudar as pessoas a se comportarem adequadamente. E assim se alcançar a desejada Segurança no Espaço Público.
Espaços seguros são ambientes em que está garantida não apenas a integridade física dos cidadãos, mas também provocam uma sensação de bem-estar e acolhimento. A segurança vai muito além da presença de agentes ou dispositivos de vigilância; é um elemento intrínseco ao design e à gestão desses espaços.
Sendo os espaços públicos locais de interação social, a segurança é fundamental para atrair as pessoas a utilizá-los.
Espaços públicos são áreas destinadas ao uso dos cidadãos, sem necessidade de pagamento. Os principais espaços públicos nas cidades são praças, parques e ruas. O espaço público é usado de forma coletiva, sendo nele que ocorre a interação entre as pessoas. É também no espaço público onde acontecem diversas atividades, coletivas e individuais.
1.Legibilidade e Segurança no Espaço Público
Um espaço legível é aquele em que compreendemos facilmente a disposição dos elementos que o compõem, assim como sua funcionalidade. Em um espaço legível, o cidadão não demora para decidir para onde dirigir ou o que fazer neste espaço, pois é possível fazer rapidamente a leitura de todo o ambiente e entender todas as opções que o espaço oferece.
Um espaço bem projetado costuma apresentar linhas de visão amplas e desobstruídas, possibilitando a identificação de figuras humanas mesmo a distâncias consideráveis. Assim, os usuários do espaço público aberto têm o controle de tudo quanto acontece ao seu redor. Isso possibilita intervenção em defesa de qualquer um que esteja em situações de risco. Por outro lado, ambientes mal planeados ostentam em sua configuração cantos escuros, corredores estreitos e barreiras visuais, características que favorecem comportamentos indesejados e dificultam a vigilância natural.
Um espaço legível implica também em ser um espaço acessível. A acessibilidade a um determinado local é a facilidade com que se chega a este local. E importante para a segurança no espaço público, que este seja acessível a todos, incluindo pessoas com deficiências físicas ou mobilidade reduzida.
Espaços legíveis não apenas incentivam a sua utilização, como também tornam impossível esconder atividades suspeitas.
2.Presença constante de pessoas

A presença constante de pessoas no espaço público é, possivelmente, o fator mais decisivo para garantir a segurança desses ambientes. Afinal, os cidadãos funcionam como vigilantes naturais do espaço público, atentos ao que acontece ao seu redor. São capazes de inibir comportamentos indesejados simplesmente por estarem presentes. O potencial infrator reconhece que, em locais com grande fluxo de pessoas e elevada ocupação, as chances de ser visto, identificado ou capturado aumentam significativamente. Essa percepção atua como um fator dissuasor, reduzindo a probabilidade de infrações ou crimes. Afinal, de forma natural, tendemos a adotar comportamentos mais adequados quando sabemos que estamos sendo observados. Por isso, a presença ativa de pessoas no espaço público é essencial para torná-lo mais seguro e acolhedor.
O simples fato de estarmos num espaço onde podemos ver ou sentir a presença de outro ser humano nos transmite uma sensação de tranquilidade e faz com que nos sintamos mais à vontade. Por isso, caminhar por uma zona residencial, onde é possível observar as janelas das casas e imaginar a vida que acontece dentro delas, é geralmente mais reconfortante do que caminhar por uma zona industrial. Na área residencial, mesmo sem vermos diretamente as pessoas, conseguimos sentir que estão próximas — e essa sensação de proximidade humana nos acolhe de forma sutil e profunda.
As configurações espaciais que facilitam a presença constante de pessoas no espaço público são essenciais. Algumas delas serão descritas neste artigo, como a conexão, legibilidade, a estética e o estado de conservação do lugar.
3.Apropriação do espaço
Se apropriar dum espaço público não significa privatizá-lo, significa sentir-se responsável pelo espaço, e, por conseguinte, zelar pelo seu bom funcionamento, segurança e conservação.
Quando a comunidade é envolvida no processo de planeamento de um determinado espaço público, é natural que haja maior apropriação desse espaço por parte da comunidade. No entanto, há que se compreender que a apropriação dos espaços públicos às vezes é uma questão cultural. Existem culturas que sentem mais responsabilidade sobre o espaço comum da cidade do que outras.
Em bairros onde a comunidade reconhece o espaço público como parte integrante de sua vida quotidiana, é comum ver moradores varrerem o trecho de rua imediatamente à frente da sua casa. Isso mostra a preocupação que os cidadãos têm com o espaço público, que é um espaço que lhes serve, que lhes é importante.
Quando a comunidade se apropria de um espaço, ele deixa de ser apenas um local físico e passa a ser um lugar com identidade, carregado de significado. Essa transformação se dá por meio da presença de imagens, símbolos e pontos de encontro que conferem caráter e pertencimento ao ambiente. Esses elementos contribuem para o que estudiosos chamam de “segurança cidadã”, pois fortalecem os laços sociais e promovem a coesão comunitária.
4.Conexão que Segurança

Foto de Irina Grotkjaer na Unsplash
O espaço público que dialoga com os espaços à sua volta tem mais qualidade que aquele que se fecha em si. É por isso que a conexão entre os vários ambientes do meio urbano é tão importante. Espaços conectados geram mais fluxo de pedestres.
Para além dos espaços públicos se conectarem entre si, eles também têm de se conectar com os espaços privados. A conexão entre o espaço privado e o público pode ser física ou visual.
A conexão é física quando existe um acesso que faz a ligação entre o espaço público e o privado. Esta conexão física é que impulsiona a apropriação do espaço público por parte da comunidade, e a apropriação, por sua vez, transmite ao espaço público caráter e significado. Quanto mais conexões físicas tiver num troço de uma rua, por exemplo, mais probabilidade de encontrar pessoas nesta via existe.
Permeabilidade visual é a capacidade de se ver através das fronteiras entre os espaços privados e públicos, por meio do uso de materiais transparentes (vidro, grades, grelhas, etc.). A permeabilidade visual é importante, uma vez que conecta visualmente o espaço público e o espaço privado – a rua e a residência, a loja e o passeio, o pátio de uma instituição e a rua. Ambientes com maior transparência visual favorecem a sensação de segurança, porque dificultam a ocultação de actividades suspeitas e ampliam a percepção de que se tem alguém por perto.
A experiência de andar ao lado de uma fila de vitrines é mais rica que andar ao lado de muros altos, por isso áreas com vitrines vão atrair muito mais transeuntes do que áreas sem nenhum tipo de permeabilidade visual. A falta de barreira visual entre o espaço público e privado transmite ao potencial infrator a sensação de estar sendo vigiado.
É importante evitar espaços ociosos, como terrenos vazios e subutilizados, pois esses locais interrompem a conectividade e reduzem a segurança ao diminuir os níveis de atividade. A ocupação contínua e diversificada desses espaços aumenta a conectividade e promove a segurança através da presença constante de pessoas.
5.Actividade
A oferta de espaço para prática de várias actividades do dia-a-dia é crucial para activar o espaço publico. Actividades contínuas — como pedestres caminhando; moradores parados nas ou sentados próximo às entradas de suas residências; crianças brincando; pessoas em parques, sentadas ou praticando alguma actividade, sozinhas ou em grupos; pessoas em cafés ou lojas; ciclistas, corredores; vendedores, ambulantes ou não — geram o que é conhecido como “olhos na rua”, que consiste em ter constantemente pessoas assistindo passivamente as actividades que acontecem no espaço publico. A oferta de espaços e condiciones para a prática destas actividades leva a presença constante de pessoas, tornando mais difícil para criminosos se esconderem ou agirem sem ser vistos, o que, por si só, inibe comportamentos indesejados e perigosos.
Cidades caminháveis, terão mais pedestres no espaço público e por isso terão mais olhos sobre o espaços públicos aberto, e, portanto, espaços públicos mais seguros. Para que a actividade do caminhar no espaço publico se dê com mais frequência, a experiência do usuário do espaço público deve ser interessante e dinâmica. Quem percorre uma rua, por exemplo, deve receber estímulos ao longo do percurso. Estes estímulos podem decorrer da presença de vitrines, presença de outras pessoas no percurso e de fachadas activas e dinâmicas.
Cidades com altos índices de caminhabilidade têm espaços públicos mais seguros do que cidades com baixo índice de caminhabilidade. A caminhabilidade torna o espaço público mais agradável e seguro, uma vez que a presença de pessoas e actividades visíveis diminui a sensação de abandono e insegurança.
A inclusão de elementos como bancos ou espaços de descanso em áreas abertas, promove a interacção e a observação mútua.
Podemos concluir que as actividades que tornam o espaço público mais seguro são aquelas que atraem mais pessoas para o espaço público. Actividades que muitas das vezes, são passivas, como sentar no banco de um parque, almoçando ou lendo um livro.
6.Iluminação
Ambientes com boa iluminação dificultam a prática de comportamentos criminosos, porque facilitam a observação de actividades ilícitas. Diversos estudos mostram que a falta de iluminação adequada contribui para o aumento da criminalidade nas zonas urbanas e enfraquece a sensação de segurança entre os utilizadores desses espaços.
A iluminação aumentam a nossa capacidade de perceber o ambiente em que nos inseridos.
A má definição da iluminação cria sombras e zonas escuras que facilitam a ocorrência de actividades indesejadas sem serem percebidas. Para garantir maior segurança e funcionalidade, torna-se essencial considerar, em cada projecto, a intensidade, a cor e o tipo de luz aplicável ao espaço urbano.
Recomenda-se o uso de LEDs de alta eficiência, que não apenas reduzem o consumo energético, mas também oferecem uma iluminação mais uniforme e confortável aos olhos. Ademais, a escolha de lâmpadas adequadas e sua correta distribuição são cruciais para evitar o ofuscamento e o desconforto visual, elementos que podem comprometer a percepção do ambiente e, consequentemente, a segurança no espaço publico.
7.Limpeza e estética do lugar
Um espaço mal cuidado pode sinalizar que a criminalidade é tolerada nesse lugar. Existe mais probabilidade de ocorrência de crime num lugar sujo do que em um lugar limpo e bem cuidado. Isto ocorre porque a mente criminosa percebe que o espaço é mal cuidado por não ter um dono. Se ninguém zela pelo espaço, ninguém se vai preocupar também com o que acontece nele.
Um espaço esteticamente apetecível ganha carácter e a comunidade facilmente se apropria desse espaço. A comunidade se sente dona do espaço e, por conseguinte, responsabiliza-se por garantir a segurança de tal espaço. Ademais, uma paisagem esteticamente apetecível influência as pessoas que a vivenciam a pautarem por uma boa conduta.
Espaços bem cuidados atraem mais usuários. O querido leitor já deve ter deixado de se fazer transitar por uma rua porque ela tinha focos de lixo pelo chão ou exalava um mau cheiro. E tal como já foi dito neste artigo, a presença constante de pessoas no espaço publico traz consigo a segurança e sensação de acolhimento.
8.Prespectiva Refugio e Fuga
A perspectiva é um elemento de extrema importância para que um espaço público seja legível. Ela está directamente relacionada à noção de escala e à capacidade de revelar múltiplas distâncias e orientações a partir de um determinado ponto de vista. Essa clareza espacial permite aos usuários perceber acontecimentos, identificar pessoas e localizar objectos no ambiente em que se inserem, promovendo uma leitura mais intuitiva do espaço.
O refúgio, por sua vez, diz respeito à capacidade de uma área urbana proporcionar acolhimento em situações de ameaça, através da oferta de locais seguros e de fácil acesso na proximidade. No contexto urbano estes espaços podem ser estabelecimentos comerciais, restaurantes ou residências. São espaços que funcionam como pontos de abrigo temporário, contribuindo para o fortalecimento da sensação de segurança no espaço público.
A fuga exprime a facilidade com que é possível abandonar um local em que nos sentimos inseguros ou ameaçados. Para isso, é necessário que as rotas de circulação no espaço público sejam muito claras. visibilidade proporcionada pela perspectiva facilita a identificação dos pontos de refúgio e das rotas de fuga, criando uma experiência urbana coesa.